Casa em movimento: uma etnografia da Casa da Mulher Maranhense em Imperatriz/MA

Abstract

RESUMO: Esta monografia analisa o atendimento a mulheres em situação de violência sexual na Casa da Mulher Maranhense, em Imperatriz-MA, a partir de uma abordagem etnográfica. Tem como objetivo compreender o funcionamento cotidiano da Casa e os itinerários institucionais percorridos pelas vítimas, considerando também a escuta das profissionais que atuam no acolhimento e nos encaminhamentos. A pesquisa articula observação participante, diário de campo, entrevistas semiestruturadas e análise documental de 75 fichas de atendimento registradas no ano de 2023. Os dados foram sistematizados em categorias como idade, ocupação, cor/raça e vínculo com o autor da violência, sendo analisados à luz da perspectiva interseccional. Os resultados revelam que a maioria das vítimas é composta por mulheres jovens, pardas e em situação de vulnerabilidade socioeconômica, e que a violência sexual raramente ocorre de forma isolada, estando frequentemente associada a outros tipos de violência. Além de indicar os limites e potências da resposta institucional, o que evidencia como práticas de cuidado e escuta sensível convivem com lacunas operacionais e fragmentações nos registros. Conclui-se que o enfrentamento à violência sexual exige mudanças estruturais nas dinâmicas institucionais e nas relações de poder que perpetuam desigualdades de gênero, reafirmando a importância de políticas públicas integradas, territorializadas e comprometidas com a dignidade das mulheres.___ABSTRACT This monograph analyzes the care provided to women in situations of sexual violence at the Casa da Mulher Maranhense in Imperatriz, Maranhão, using an ethnographic approach. It aims to understand the institution’s daily functioning and the institutional itineraries followed by the victims, while also considering the perspectives of the professionals involved in reception and referral services. The research combines participant observation, field notes, semi-structured interviews, and the documentary analysis of 75 case records from the year 2023. The data were categorized by age, occupation, race/ethnicity, and the victim’s relationship to the aggressor, and examined through an intersectional lens. The results show that most victims are young, brown skinned women in situations of socioeconomic vulnerability, and that sexual violence rarely occurs in isolation, often overlapping with other forms of violence. The study also identifies both the strengths and the limitations of the institutional response, revealing how practices of care and sensitive listening coexist with operational gaps and fragmented documentation. It concludes that confronting sexual violence requires structural changes in institutional dynamics and power relations that sustain gender inequalities, reinforcing the need for integrated, locally grounded public policies committed to the dignity of women.