A criança e o “mito”: uma análise dos discursos visuais sobre a infância militarizada no bolsonarismo

Abstract

RESUMO

Este trabalho analisa como os discursos visuais do bolsonarismo contribuem para a construção de uma infância militarizada no Brasil contemporâneo. A partir de uma abordagem etnográfica, foram examinadas 23 imagens e depoimentos de Bolsonaro com crianças, sobretudo em contextos de campanhas eleitorais, coletadas nos entre março e abril de 2025 e que circularam entre 2018 a 2024, além de eventos públicos, nos quais surgem representações infantis associadas a fardas, armas e gestos militares. Inspirado em Toren (Regitano e Toren, 2019), o estudo compreende texto e imagem como dados complementares, igualmente passíveis de interpretações e equívocos, rejeitando a hierarquia entre palavra e imagem. Os resultados indicam que o bolsonarismo promove uma concepção própria de infância, marcada pela adultificação das crianças e pelo uso de seus corpos como vitrines de valores conservadores — disciplina, autoridade, patriotismo e masculinidade hegemônica — ao mesmo tempo em que naturaliza a violência e a militarização simbólica. Essa lógica se estende à institucionalização do Programa Nacional das Escolas Cívico-Militares, que reforça uma pedagogia de obediência e controle, restringindo autonomia e criatividade infantil.Assim, a infância aparece como um campo estratégico de disputa simbólica e cultural no bolsonarismo, sendo instrumentalizada como território ideológico. O estudo contribui para os debates da antropologia, dos estudos da infância e da teoria política ao evidenciar a necessidade de compreender a criança como sujeito de direitos, pluralidade e autonomia, em oposição a qualquer forma de militarização simbólica ou institucional.