Variabilidade e tendências do transporte meridional de calor pela corrente norte do Brasil ao largo do Maranhão

Abstract

RESUMO

As mudanças climáticas globais têm se intensificado nas últimas décadas, com impactos diretos nos sistemas atmosféricos e oceânicos. O oceano, que absorve mais de 90% do excesso de calor proveniente do efeito estufa, desempenha papel essencial na redistribuição dessa energia por meio do transporte meridional de calor. No Atlântico Tropical, esse transporte está associado à Circulação Meridional de Revolvimento do Atlântico (AMOC), que transfere calor das baixas para as altas latitudes, sendo a Corrente Norte do Brasil (CNB), corrente de contorno oeste da Margem Equatorial Brasileira (MEB), uma de suas principais componentes superficiais. A relevância do estudo da CNB aumenta frente às recentes evidências de enfraquecimento da AMOC, o que pode implicar alterações significativas nos regimes climáticos regionais e globais. Apesar da importância da CNB, ainda existem lacunas quanto à compreensão da variabilidade do transporte de calor realizado por essa corrente ao largo da Plataforma Continental do Maranhão (PCMA). Investigar a sazonalidade, a intensidade e as tendências de longo prazo do transporte meridional de calor pela CNB nessa região é fundamental para melhorar as previsões climáticas e fornecer subsídios científicos para políticas de adaptação frente às mudanças climáticas. Este trabalho analisou o transporte meridional de calor realizado pela CNB ao largo da PCMA, no período entre janeiro de 1993 e dezembro de 2024, com base em dados de reanálise oceânica (GLORYS12V1). Foram utilizados perfis verticais médios e diagramas de Hovmöller para identificar a região de maior intensidade da CNB na região e quantificar sua variabilidade espacial e temporal. Os resultados apontam que em frente ao Maranhão a corrente atua com maior intensidade entre as latitudes de 1°S e 1°N, especialmente ao longo da longitude de 44°W e até 100 m de profundidade. O transporte meridional de calor pela CNB apresenta clara sazonalidade, com máximos ocorrendo entre junho e julho, concentrando-se nas camadas superiores do oceano. Observou-se ainda uma tendência negativa de longo prazo no transporte meridional de calor, com declínio médio de –0,0084 PW/ano (1 PW=1×1015 W), possivelmente associado ao enfraquecimento da AMOC frente à aceleração das mudanças climáticas. Tal redução pode implicar mudanças relevantes na redistribuição energética do Oceano Atlântico Tropical e no clima regional.