UM CLERO NATIVO? MESTIÇAGENS E CLIVAGENS SOCIAIS NOS PROCESSOS DE HABILITAÇÃO DE GENERE NO BISPADO DO MARANHÃO (1700 – 1750)

Abstract

O termo “mestiçagem” possivelmente surgiu na segunda metade do século XVIII, servindo para compreender a constituição das mesclas biológicas e culturais que se constituíram a partir dos contatos entre povos distintos. As tipologias baseadas em considerações de caráter substantivamente prático e designadas pelos Estatutos de Pureza de Sangue, propuseram a recriação de mecanismos identificadores criados pela miscigenação. Assim, as dinâmicas de mestiçagem são elementos fundamentais para se pensar não somente o mestiço como produto, mas, de igual modo, as formas de operacionalização das sociabilidades, discursos e representações do qual este conceito se vale. Dessa forma, este estudo propõe analisar o perfil social do clero no bispado do Maranhão na primeira metade do século XVIII, evidenciando as estratégias políticas utilizadas para recebimento do sacramento da ordem. A documentação da Arquidiocese do Maranhão ajuda a compreender a atuação da Igreja frente a formação de um clero nativo no bispado do Maranhão. Selecionada, organizada e compulsada, essa documentação, revela minúcias em relação a legislação diocesana referente ao recebimento das ordens sacerdotais; a exclusão social pactuada pela pureza de sangue e como essa compreendeu índios e seus descendentes no interior da Igreja e, por fim, evidenciou que as dinâmicas de mestiçagem, atreladas a um conjunto de fatores políticos, sociais e econômicos demonstraram a presença de descendentes de africanos e indígenas compondo o clero secular no bispado do Maranhão. Ademais, como escopo documental, este estudo utilizou a série documental, Habilitações de genere – processos da Câmara Eclesiástica –, compreendidos entre os anos de 1700 a 1750. Portanto entendendo a miscigenação como característica demográfica no Brasil colonial, muitas foram as máculas de “mulatismo”, cristã-novice, gentilidades e “misturas” que evidenciaram a construção de um clero nativo e mestiço na Amazônia portuguesa, desde a primeira metade do século XVIII.