A cidade como elemento mítico em Mia Couto: uma análise do romance Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra

Abstract

Este trabalho propõe-se a fazer uma análise do romance Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra (2003), de Mia Couto. Intenta-se, a partir da presente investigação, observar como o autor representa a cidade em seu romance. Atualmente os estudos sobre a cidade vêm despertando cada vez mais o interesse não somente no mundo acadêmico, mas também de outros segmentos da sociedade (GOMES, s/d, p.19). Na literatura, a cidade também é um fenômeno humano, palco de conflitos e experiências históricas, que fazem relação com o tempo e a memória de determinada sociedade. A leitura da cidade dentro da literatura vai além do espaço físico, compreendendo diversos aspectos, tais como a cultura, os costumes, os personagens e aspectos míticos, como no caso da Ilha no romance analisado. A reflexão empreendida a partir deste estudo exige pensar também sobre a questão de identidade, tema sempre presente nos escritos de Mia Couto. Como centro desse resgate cultural, o autor metaforiza em sua obra a Ilha de Luar-do-Chão como o espelho de Moçambique, sendo esse espaço rodeado por elementos míticos que serão de suma importância para o redescobrimento de antigas tradições reveladas ao neto Marianinho, figura representante da hibridização entre as culturas portuguesa e africana, desmistificando a compreensão por parte de alguns críticos sobre a oralidade como uma questão obrigatória na literatura africana, onde Brugioni (2016) afirma que a oralidade é uma opção estética dentro de seus escritos. Para tanto, fez-se necessário, como metodologia para o estudo, realizar uma pesquisa bibliográfica de cunho analítico sobre a cultura africana, em especial de Moçambique. Para fundamentar a pesquisa foram utilizados autores como Gomes (1997); Brugioni (2016); Ana Mafalda Leite (2014); Tutikian (2006); Moraes (2012); Petrov (2014); Fonseca e Cury (2008), entre outros. Dessa forma, como resultado da pesquisa empreendida através do método bibliográfico, observou-se o papel da literatura do autor como representante dos elementos míticos (casa, terra, homem e rio) contidos na cidade de Luar-do-Chão, um retrato da Moçambique após os conflitos civis do pós-independência. __________ ABSTRACT: This work proposes to make a study about how Mia Couto represents the city in her novel: A river called time, a house called land (2003). Nowadays, studies on the city have increasingly aroused interest not only in the academic world, but also in other segments of society (GOMES, s / d, p.19). In literature, the city is also a human phenomenon, stage of conflicts and historical experiences, which are related to the time and memory of a certain society. The reading of the city within literature goes beyond physical space. City comprises culture, customs, characters and mythical aspects, as in the case of the Island in the novel analyzed. The reflection undertaken from this study requires thinking also about the question of identity, a theme always present in the writings of Mia Couto. As the center of this cultural rescue, the author metaphors in his work the Island of Luar-do-Chão as the mirror of Mozambique, being this space surrounded by mythical elements that will be of great importance for the rediscovery of old traditions revealed to the grandson Marianinho, figure Representative of the hybridization between Portuguese and African cultures, demystifying the comprehension by some critics of orality as an obligatory question in African literature, where Brugioni (2016, 32) affirms that orality is an aesthetic option within his writings . In order to do so, it was necessary to carry out an analytical bibliographical research on African culture, especially in Mozambique. To base the research was used the theoretical reference Gomes (s / d); Gomes (1997); Brugioni (2016); Ana Mafalda Leite (2014); Tutikian (2006); Moraes (2012); Petrov (2014); Fonseca and Cury (2008), among other authors. In this way, the author represents, through the mythical elements (house, land, man and river), contained in the city of Luar-do-Chão, a Mozambique after the post-independence civil conflicts.