Uso de hipotermia terapêutica no recém-nascido com encefalopatia hipóxico-isquêmica: proposta de protocolo clínico assistencial

Abstract

A encefalopatia hipóxico-isquêmica é uma importante causa de dano neurológico ao recémnascido, responsável por muitos óbitos e sequelas. É uma síndrome neurológica caracterizada pela dificuldade em iniciar e manter a respiração, pela alteração do nível de consciência, pela depressão dos reflexos e do tônus muscular e pela presença de convulsões. Há no mundo dois a quatro recém-nascidos com encefalopatia hipóxico-isquêmica para cada 1.000 nascidos vivos a termo, e a taxa de mortalidade dos recém-nascidos asfixiados que desenvolvem encefalopatia varia de 10 a 60%, sendo que no mínimo 25% dos sobreviventes apresentam sequelas neuroló- gicas a longo prazo. Dentre os com encefalopatia severa, 60% morrem, e a maioria, senão todos os sobreviventes, tornam-se portadores de deficiências. No Brasil, mais especificamente nas regiões Norte e Nordeste, a asfixia/hipóxia é apontada como a segunda causa de mortalidade neonatal na primeira semana de vida. Até recentemente não havia nenhuma estratégia específica para prevenir a lesão cerebral em recém-nascidos vítimas de asfixia perinatal, sendo seu tratamento resumido ao manejo das complicações e comorbidades. Nas últimas décadas foram realizados estudos que indicaram que a diminuição da temperatura corpórea em 3 a 5 °C em relação à temperatura basal reduz a lesão cerebral e melhora a função neurológica após a asfixia. Essa abordagem, intitulada Hipotermia Terapêutica estabeleceu-se, então, como tratamento de escolha devido, principalmente, a seus bons resultados alcançados, como diminuição da mortalidade e melhor prognóstico neurológico a longo prazo. Embora haja clara evidência científica, ainda são poucos os serviços que contam com um protocolo de hipotermia terapêutica em recémnascidos em território nacional. O presente trabalho visa, portanto, a elaboração de um Protocolo Clínico Assistencial que oriente o uso da hipotermia terapêutica em recém-nascidos com encefalopatia hipóxico-isquêmica na Unidade Neonatal do Hospital Universitário da Universidade Federal do Maranhão de maneira a contribuir para a melhoria da assistência prestada.