Reencantamento do mundo: a subjetividade akroá gamella

Abstract

Esta monografia discute o modo de produção da subjetividade dos Akroá Gamella. De maneira sucinta os Akroá Gamella são um povo que, no mínimo desde o século XVIII, vivem na região que hoje se estabeleceu o município de Viana, no Maranhão. Na segunda metade do século XX esse povo foi considerado extinto, no entanto, o que ocorreu foi um processo estratégico de ocultação para que sobrevivessem em decorrência das várias investidas de violência empreendidas pelos invasores daquelas terras a partir da década de 1970 com a criação de um inventário fraudulento. A ocultação era estratégica para os Akroá Gamella, já em 2014 foi necessário efetuar uma mudança no modo de resistência e eles saem da ocultação para a visibilidade se autodeclarando publicamente nesse mesmo ano, configurando a etnogênese, ou seja, a emergência de povos indígenas que outrora haviam sido considerados extintos por conta da sistemática tentativa de extermínio deles através de dispositivos tangenciados pela colonialidade, como a retirada de suas terras, apagamento da memória, interdição linguística e outros modos opressivos. No processo de recuperação territorial, denominado de retomada, eles conseguem expulsar parte dos invasores. Entretanto, aciona-se uma concepção do território como pertencente aos encantados, um conjunto de seres que convivem com os Akroá Gamella, que atuam na organização dos fenômenos naturais e também no fortalecimento da luta política. Com isso desenvolve-se uma discussão sobre a subjetividade, que diz respeito ao modo como determinados grupos produzem uma relação consigo e com o mundo, ou seja, como se arranjam os elementos de seus territórios existenciais. Tendo isso em vista, realizou-se incursões ao território em questão e pesquisa documental, com o intuito de compreender e levantar os elementos que indicam a construção da subjetividade desse povo. Nesse sentido compreende-se o território, espaço de circulação da vida, e os encantados, com o reencantamento do mundo, como um modo de engendrar as relações entre os Akroá Gamella e o mundo, como elementos aliados a subjetividade.