Resistindo Atrás dos Ramos: considerações sobre prazer e sofrimento no trabalho de uma profissional do sexo em São Luís - MA

Abstract

A despeito de ser considerada uma das profissões mais antigas das quais se tem relato, a prática prostitucional ainda carece bastante de investigações, no campo da Psicologia, relativas ao modo como quem a exerce percebe seu trabalho. Questiona-se, por exemplo, sobre quais motivações levam suas praticantes a tal ofício. Já que se trata de uma prática que remonta à Antiguidade, como ela tem se sustentado ao longo dos séculos? Estaria, então, mais atrelada ao sofrimento, ao prazer, ou as duas dimensões se articulam? Sabe-se que a satisfação no trabalho é fundamental para vivências de prazer. De igual modo, progressivas frustrações, aliadas ao distanciamento de se realizar profissionalmente, tendem a produzir vivências de sofrimento psíquico no ambiente laboral. Sendo assim, os objetivos da presente pesquisa foram: compreender a dinâmica de prazer e sofrimento no trabalho de uma profissional do sexo de São Luís - MA; investigar o perfil socioeconômico da prostituta colaboradora; investigar as principais motivações latentes e manifestas para seu ingresso na prática protitucional; compreender a percepção da garota entrevistada sobre seu trabalho. Para tanto, além da revisão bibliográfica construindo a fundamentação teórica, a pesquisa aqui discutida teve por base o método qualitativo, através de um estudo de caso, sendo utilizado o instrumento da entrevista semiestruturada, à qual a prostituta colaboradora foi submetida. Os dados coletados foram analisados a partir da Análise de Conteúdo de Bardin, através de uma categorização temática pautada no discurso da profissional entrevistada. Prostituta oriunda da classe média aos 24 anos, ganha a vida no ofício há 3 anos, custeando seus estudos e aluguel. De tal modo, a referida prostituta afirmou ser feliz no ofício ocupado, apesar das adversidades inerentes ao seu trabalho, como a distância da família e o consumo diário de substâncias psicoativas. Portanto, é relevante o presente estudo ao explicitar o fenômeno da prostituição e, com isso, ampliar discussões relativas ao tema na esfera social e da Psicologia, visando minimizar estigmas e preconceitos. Os resultados e a discussão evidenciaram uma entrada precoce no mundo da sexualidade a partir de um abuso sofrido na infância pela colaboradora. Scarlett, nome fictício dado a ela, fala sobre o dinheiro como força motriz de sua prática. A distância da filha, por sua vez, mostrou-se uma frequente razão de sofrimento, impulsionado pelo consumo diário de substâncias entorpecentes. De tal modo, é inequívoco dizer que prazer e sofrimento são categorias inerentes ao ofício prostitucional, com base no relato da participante e na revisão bibliográfica que embasa a pesquisa. Esses componentes se entrelaçam no trabalho da entrevistada, cuja história, a depender do ponto de vista, pode estar mais envolvida em aspectos positivos ou em aspectos negativos no trabalho. Evidentemente, os resultados aqui discutidos ampliam o leque informativo da Psicologia sobre a prostituição feminina, fomentando o desenvolvimento de políticas públicas voltadas à saúde de uma classe que resiste ao tempo e ao preconceito.