Diário de homossexuais cristãos: rompendo com a noiva de Deus

Abstract

A sexualidade humana sempre esteve presente na História. As marcas dessa presença estão nas mais diversas expressões de arte, nas criações de culturas, de políticas, de conhecimentos. Atualmente, existem inúmeras classificações que enquadram pessoas em tipos de sexualidade, entre elas, a homossexualidade, um derivado da contraposição histórica e política acerca da sexualidade estabelecida como padrão – a heterossexualidade. Em virtude disso, diversos saberes e atores sociais, a partir da Modernidade, construíram discursos, tais quais pretendiam portar uma verdade sobre o desejo do sujeito. A Igreja, a medicina, a psiquiatria, a psicanálise e a psicologia, entre outros saberes, repercutiram ao seu modo preconceitos sociais, alimentando práticas violentas (homofobia) que operam até hoje. No Brasil, esses preconceitos são principalmente orientados moralmente, porquanto considerados legítimos por serem “bons valores”, levando algumas pessoas a se acharem no direito de rechaçar, humilhar e praticar injúria contra homossexuais. Diante disso, buscou-se analisar como os homossexuais cristãos lidam com as suas sexualidades no contexto da igreja, na maior parte das vezes, contrário à prática homossexual. Para chegar a esse objetivo, foram adotados os seguintes procedimentos, - fazer uma cartografia das práticas higienistas em relação às sexualidades não heteronormativas, historicizar processos de construção da subjetividade homossexual, analisar os efeitos do preconceito, discriminação e injúria contra homossexuais cristãos, identificar os modos de recusa da homossexualidade por esses indivíduos e a construção de novos territórios existenciais. Como método de pesquisa foi adotado a Cartografia oriunda de Deleuze e Guattari, que pensa a imanência do desejo e da sociedade por meio do acompanhamento de práticas, a fim de mapear os movimentos do desejo homossexual na igreja, observando as linhas de fuga e de captura no processo de subjetivação do homossexual cristão. Foi observado na pesquisa levantada que esse grupo experimenta vários tipos de violência, explícita e implícita, interna e externa, dando a compreender que a religião cristã tem grande responsabilidade no processo de autoaceitação desses indivíduos. Partindo desse resultado ressaltamos a importância do espaço aberto para que os próprios homossexuais possam dizer o que buscam e esperam na convivência em sociedade.