A fenomenologia-existencial de Martin Heidegger como fundamento para a sustentação do conceito de cuidado em psicoterapia

Abstract

RESUMO Este estudo buscou compreender as possíveis mudanças empreendidas nos modos de ser do ente humano, através de uma psicoterapia do cuidado, fundamentada no pensamento fenomenológico-existencial de Martin Heidegger. Para tanto, efetuou-se uma pesquisa bibliográfica, adotando a fenomenologia-existencial como referencial teórico e metodológico. A pesquisa foi realizada em bibliotecas físicas e virtuais, em sites, livros, artigos e periódicos que tratam o tema. Estabeleceu-se como objetivo geral demonstrar a possibilidade de uma psicoterapia do cuidado sustentada na proposta da Analítica-existencial de Martin Heidegger. Os objetivos específicos foram três: evidenciar, na Fenomenologia-Existencial de Martin Heidegger, os fundamentos para a compreensão do ser do ente humano como constituído por cuidado; apontar as características do conceito de cuidado proposto por M. Heidegger e sua correlação originária com os modos de ser do ente humano (o Dasein); Apresentar as características do modelo proposto por Martin Heidegger que possibilitou o desenvolvimento da análise-existencial ou Daseinsanálise. O modelo proposto por Martin Heidegger apresenta características próprias, que resultaram na criação da análise-existencial ou Daseinsanálise. As noções de homem e mundo elaboradas pela fenomenologia-existencial são fundamentais para sustentar um fazer clínico afastado tanto do modelo próprio da tradição metafísica, quanto do modelo positivista e sua dicotomia sujeito/objeto e seus demais pressupostos. Por outro lado, o pensamento de Martin Heidegger, constante em sua obra Ser e Tempo, lançada originalmente em 1927, possibilitou que a fenomenologia se singularizasse em seu caráter mais existencial, transformando-se em uma ontologia fundamental. A Psicologia também foi impactada pelos importantes desdobramentos a partir da obra Ser e Tempo (1927/2002), principalmente no contexto clínico, por estabelecer a possibilidade de se compreender as questões existenciais humanas mais profundas como o modo próprio de ser de cada ente humano em seu existir ou seu estar no mundo. A compreensão heideggeriana concebe homem e mundo como co existentes originariamente. O homem constitui-se através da atribuição de sentido ao mundo e sua realidade, enquanto que a partir dessa atribuição de sentido, o fenômeno mundo passa a ser para este dasein. Logo, a compreensão dessa unidade fundamental da existência, que Heidegger (2002) intitula ser-no-mundo, possibilitou à Psicologia estabelecer sob novas bases seu objeto de estudo. Isso foi de crucial importância para que a Psicologia avançasse na construção de um método clínico próprio, mais adequado ao contexto existencial humano. A clínica psicológica do cuidado, neste caso, fundamenta-se na abordagem fenomenológico existencial, utiliza-se da dinâmica e dos procedimentos estruturantes do método da análise-existencial, que são: abertura, escuta, compreensão, descrição e cuidado. Ela tem como principal função possibilitar ao ente humano em análise o ambiente necessário à reconstrução de seu ser-todo próprio através do processo autônomo do cuidado. ____ ABSTRACT This study sought to understand the possible changes undertaken in the ways of being of the human being, through a psychotherapy of care, based on the phenomenological-existential thought of Martin Heidegger. For this, a bibliographic research was carried out, adopting the existential phenomenology as a theoretical and methodological reference. The research was carried out in physical and virtual libraries, on websites, books, articles and periodicals that deal with the theme. It was established as a general objective to demonstrate the possibility of a psychotherapy of care sustained in his proposal of the Analytical-existential of Martin Heidegger. The specific objectives were three: to highlight, in Martin Heidegger's Existential Phenomenology, the foundations for understanding the human being as constituted by care; to point out the characteristics of the concept of care proposed by M. Heidegger and its original correlation with the ways of being of the human being (Dasein); To present the characteristics of the model proposed by Martin Heidegger, which enabled the development of existential analysis or Daseinsanalysis. The model proposed by Martin Heidegger has its own characteristics, which resulted in the creation of existential analysis or Daseinsanalysis. The notions of man and world elaborated by existential phenomenology are fundamental to support a clinical practice that is distant from the model proper to the metaphysical tradition, as well as from the positivist model and its subject / object dichotomy and its other assumptions. On the other hand, the thought of Martin Heidegger, constant in his work Being and Time, originally launched in 1927, made it possible for phenomenology to become unique in its most existential character, transforming itself into a fundamental ontology. Psychology was also impacted by the important developments from the work Being and Time (1927/2002), mainly in the clinical context, for establishing the possibility of understanding the most profound human existential issues as the way of being of each human being in your existence or your being in the world. Heidegger's understanding conceives man and the world as originally co-existent. Man is constituted through the attribution of meaning to the world and its reality, while from this attribution of meaning, the world phenomenon becomes for this dasein. Therefore, the understanding of this fundamental unit of existence, which Heidegger (2002) calls being-in-the-world, made it possible for Psychology to establish its object of study under new bases. This was of crucial importance for Psychology to advance in the construction of its own clinical method, more appropriate to the human existential context. The psychological clinic of care, in this case, is based on the phenomenological-existential approach, uses the dynamics and the structuring procedures of the method of existential analysis, which are: openness, listening, understanding, description and care. Its main function is to enable the human being in analysis the environment necessary for the reconstruction of his own being through the autonomous process of care.