Rodas reflexivas: a Psicologia como recurso para mudança de percepção dos homens em situação de violência contra a mulher

Abstract

RESUMO

Este trabalho em Psicologia Social busca abordar a violência contra a mulher como violência de gênero, com o olhar voltado para a construção da masculinidade e sua relação com a agressividade, tendo como base autores que corroboram para essa questão, ressaltando-se os trabalhos de Raewyn Connell. O local escolhido para a pesquisa foi o Fórum Desembargador Sarney Costa - Tribunal de Justiça do Maranhão, na Primeira Vara Especial de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher da comarca de São Luís-Ma, onde se realizam os trabalhos do grupo reflexivo de homens em situação de violência doméstica e familiar contra a mulher, o Grupo Reflexivo de Gênero do TJ/MA. O objetivo geral desta pesquisa de campo foi analisar os efeitos de intervenções reflexivas/responsabilizantes voltadas para homens em situação de violência ao tratar do fenômeno da violência de gênero contra a mulher. Assim, buscou-se compreender a construção da masculinidade e sua relação com a agressividade e violência contra a mulher, contextualizar a criação do grupo pesquisado e suas estratégias utilizadas no trabalho com os homens e investigar a partir dos relatos de participantes a percepção que têm acerca das relações de gênero e da violência de gênero após a participação no grupo. Para a coleta de dados utilizou-se a estratégia metodológica da história oral a partir de entrevista semiestruturada com três homens que participaram do grupo, e o processo de análise se deu pela técnica análise do discurso. Com a pesquisa percebeu-se que, representando uma amostra do grupo, os entrevistados apresentaram mudanças significativas em seus pensamentos, concepções, crenças e comportamentos em relação às mulheres, a si próprios e à outros homens, observou-se alterações quanto a conscientização e responsabilização pelos atos cometidos, modificações na percepção sobre a figura feminina, violência contra a mulher e a importância de relações mais respeitáveis e igualitárias entre gêneros, surgimento de novos posicionamentos frente a conflitos, bem como a percepção do grupo como local de reflexão, aprendizagem e interlocução. Diante disso, depreende-se que as intervenções do grupo se mostraram relevantes ao contribuir para mudanças em relação aos estereótipos de gênero, da masculinidade hegemônica e naturalização da violência, dentre outras questões que são fatores importantes de serem problematizadas ao se considerar o fenômeno da violência contra a mulher. Assim, a proposta voltada para os homens mostra-se como significativa e mais uma aliada no combate à violência contra a mulher.