Tabus alimentares e uso de peixes com fins medicinais entre pescadores artesanais do município da Raposa, Ilha do Maranhão

Abstract

No município da Raposa a pesca se constitui como uma das principais atividades econômicas e de subsistência da população local. O pescado capturado representa o alimento básico da dieta alimentar destes pescadores, além de ser importante fonte de proteína animal. Algumas espécies de peixes são preferidas pelos pescadores e outras são restritas na dieta por aversões sendo consideradas tabus alimentares. Por outro lado, estas mesmas espécies consideradas tabus são utilizadas com fins medicinais. Esta pesquisa teve como objetivo analisar os tabus alimentares e usos dos peixes com fins medicinais entre pescadores artesanais. Para isto, foram realizadas 36 entrevistas com uso de formulários semiestruturados de fevereiro de 2021 a abril de 2022. Vinte e quatro espécies de peixes foram citadas como as preferidas para consumo entre os pescadores entrevistados. Entre estes a tainha pitiu apresentou o maior número de citações. Também foram citadas 10 espécies de peixes que são consumidas, mas com rejeição de uma parte, sendo o bandeirado a espécie mais citada. Vinte e três espécies de peixes foram listadas como não consumidas quando a pessoa está doente. Em relação ao uso dos peixes com fins medicinais, foram citadas 16 etnoespécies, sendo classificados cientificamente como peixes 12 espécies; 1 espécie de mamífero, 1 espécie de molusco e 2 espécies de crustáceos. As principais doenças tratadas com os medicamentos feitos com partes dos peixes estão relacionadas a problemas respiratórios, feridas, pós operatório, dores articulares e doenças nos ossos, como osteoporose. Observa-se que as preferências pelas espécies de peixes estão relacionadas em sua grande maioria, ao sabor da carne. A rejeição está relacionada à cor da carne do peixe, ao seu hábito alimentar, por serem peixe de couro ou venenoso. Conclui-se que os pescadores revelaram ter experiências com o uso de espécies de peixes com indicações para doenças, com conhecimento detalhado do emprego desses animais para a produção de remédios e as preferências de consumo na maioria dos casos envolvem aspectos ambientais e biológicos das espécies.