Do silenciamento à violação: a percepção de mulheres sobre o estupro

Abstract

RESUMO A violência é um tema que mobiliza e atinge mulheres no mundo inteiro, de diversas idades, identidades étnico-raciais e classes sociais, pois atravessa a existência desse grupo em sociedades estruturadas pelo patriarcado. A violência de gênero, baseada na desigualdade entre os papéis socioculturais e comportamentais destinados aos gêneros, pode se manifestar de diversas formas: físicas, psicológicas, patrimoniais, morais e sexuais. Dentre as violações sexuais, a pesquisa mantém o seu o foco sobre o estupro, definido como atos sexuais não consentidos que ocorrem sob uma situação de violência e/ou grave ameaça. Do final do século XX até os dias atuais, houve uma crescente visibilidade e criação de espaços de discussão sobre as discriminações e violências sofridas por mulheres no mundo inteiro. Apesar da luta do movimento feminista na busca pela igualdade entre os gêneros e pelo reconhecimento das mulheres enquanto indivíduos com direitos, o estupro ainda é um problema muito banalizado pela sociedade em geral. Ressalta-se a relevância social da pesquisa diante do atual cenário em que a violência contra mulheres é considerada questão de saúde pública, em que há um retrocesso nas conquistas de direitos e de políticas públicas dos grupos minoritários e no qual o estupro atinge número alarmantes. A partir disso, o objetivo principal foi compreender como as mulheres não violentadas sexualmente percebem e são afetadas pelo fenômeno do estupro. O tema foi contextualizado e compreendido por meio do Feminismo Negro, que possibilita o entendimento das opressões de gênero, sexualidade, raça e classe; e os pontos de encontro com analítica do poder de Michel Foucault sobre os dispositivos reguladores da sexualidade. A investigação se deu por meio de uma pesquisa de campo de abordagem qualitativa de caráter exploratório com cinco mulheres adultas residentes na cidade de São Luís – MA, possuindo entre 18 e 50 anos de idade. A coleta de dados ocorreu de forma virtual por meio da técnica de entrevista não diretiva, realizada em grupo em um único encontro. Os dados foram explorados e categorizados mediante a Análise de Conteúdo do tipo temática proposta por Laurence Bardin. Quanto aos resultados, as participantes da pesquisa expuseram um contexto de desigualdade de gênero em que as mulheres são consideradas inferiores, incapazes e submissas e que seus corpos por serem objetificados e considerados públicos estão constantemente expostos a ataques e agressões. Além disso, perceberam o estupro como um ato de extrema violência e invasão, que produz os sentimentos de medo, insegurança e desconfiança, mesmo para aquelas que nunca foram acometidas por essa violação sexual.__ABSTRACT Violence is a topic that mobilizes and affects women all over the world, of different ages, ethnic-racial identities and social classes, as it crosses the existence of this group in societies structured by patriarchy. Gender violence, based on inequality between sociocultural and behavioral roles assigned to gender, can manifest itself in different ways: physical, psychological, patrimonial, moral and sexual. Among sexual violations, the research maintains its focus on rape, defined as non-consensual sexual acts that occur under a situation of violence and/or serious threat. From the end of the 20th century to the present day, there has been a growing visibility and creation of spaces for discussion about discrimination and violence suffered by women worldwide. Despite the feminist movement's struggle in the search for gender equality and the recognition of women as individuals with rights, rape is still a very trivialized problem by society in general. The social relevance of the research is highlighted in the current scenario in which violence against women is considered a public health issue, in which there is a setback in the achievements of rights and public policies for minority groups and in which rape reaches an alarming number. From this, the main objective was to understand how non-violated women perceive and are affected by the phenomenon of rape. Rape was contextualized and understood through Black Feminism, which makes it possible to understand gender, sexuality, race and class oppression; and the meeting points with Michel Foucault's analysis of power on the regulatory devices of sexuality. The investigation was carried out through a field research with an exploratory qualitative approach with five adult women living in the city of São Luís - MA, aged between 18 and 50 years. Data collection took place virtually through the non-directive interview technique, carried out in a group in a single meeting. Data were explored and categorized using thematic Content Analysis proposed by Laurence Bardin. As for the results, the research participants exposed a context of gender inequality in which women are considered inferior, incapable and submissive and that their bodies, because they are objectified and considered public, are constantly exposed to attacks and aggressions. In addition, they perceived rape as an act of extreme violence and invasion, which produces feelings of fear, insecurity and mistrust, even for those who have never been affected by this sexual violation.