AS MULHERES NO SÉCULO XIX: Um estudo sobre as representações do gênero feminino em três obras de Maria Firmina dos Reis (Úrsula, Gupeva e a Escrava)

Abstract

A história da vida de Maria Firmina dos Reis foi marcada por grandes conquistas dentro do contexto social patriarcal do século XIX. A sociedade era organizada para privilegiar os homens e eram eles que constavam majoritariamente na imprensa. Porém, no meio dos intelectuais maranhenses do século XIX destacou-se uma mulher, a quem identificavam como a “Exma. Sra. Maria Firmina dos Reis”. Ela adquiriu respeito através de seu trabalho, como professora de primeiras letras da Vila de São José de Guimarães, escritora e poetisa. Publicou quatro obras, nas quais deu voz às mulheres. A presente pesquisa foi produzida a partir da identificação e análise de fontes do acervo de jornais da hemeroteca digital da Fundação Biblioteca Nacional e do Arquivo Público do Estado do Maranhão (APEM) visando investigar o protagonismo da professora de primeiras letras Maria Firmina dos Reis na história maranhense, com ênfase na análise sobre as representações das mulheres em três de suas obras: Úrsula (1859), Gupeva, (1861) e A escrava (1887). Os autores que contribuíram para a fundamentação da pesquisa foram: Zin (2016, 2017), Nascimento Morais Filho (1975), Abrantes (2003, 2013), Henrique Leal (1873) e Dunshee de Abranches (1941), os quais possibilitaram uma maior compreensão sobre o assunto. O presente estudo está organizado da seguinte forma: no primeiro capítulo é abordada a vida de Maria Firmina, suas colaborações nos jornais da época e correções em sua biografia que foram disseminadas por muitos anos sem devida análise; no segundo capítulo, aborda-se sobre a educação da mulher no século XIX, expondo o objetivo pelo qual as mulheres recebiam educação, com destaque à superioridade masculino sobre o sexo frágil, assim denominado. As primeiras escolas femininas da província do Maranhão também recebem destaque nessa parte do trabalho, onde as mulheres pobres e ricas recebiam uma educação igualmente carente, pois adquiriam apenas uma educação para servir o “sexo varonil”. No terceiro capítulo são apresentadas as representações das mulheres, as quais são destacadas de forma explicita em Úrsula, Gupeva e A Escrava. As mulheres de distintas classes sociais e raças, ganham voz em seus romances e passam a narrar suas próprias histórias, fazendo de seus livros verdadeiros protestos na luta pelos direitos sociais dos negros e das mulheres. Constata-se, por meio do estudo, que a instrução no Maranhão, do século XIX, direcionava a educação profissional apenas para figura masculina, e para as mulheres, a educação para o lar. Maria Firmina foi a primeira romancista a publicar um livro genuinamente brasileiro, contendo dilemas sociais e políticos. A partir da publicação de seus livros, que são lançados como forma de protesto contra a escravidão e contra o silêncio da mulher, a autora dá voz ao negro e às mulheres. Os livros e vida de Maria Firmina dos Reis demonstram as dificuldades enfrentadas pela mulher daquele século, explorando uma diversidade de perfis femininos que contrariam a representação monolítica e tradicional de que no século XIX, as mulheres respondiam passivamente ao papel de submissas que a sociedade esperava delas.