MARIA FIRMINA DOS REIS: mulher, negra e intelectual no Maranhão oitocentista

Abstract

A configuração do Maranhão no oitocentos tinha base numa economia de exportação de gêneros primários, como açúcar, algodão e arroz, juntamente com a produção local de lavouras e criatório de gado, cujas estruturas eram majoritariamente sustentadas pelos braços de homens e mulheres negros e negras, escravizados, libertos e livres, em meio a uma sociedade bastante segregada e hierarquizada, capitaneada por elites brancas herdeiras dos privilégios (e heranças) coloniais. Nesse contexto, nasceu Maria Firmina dos Reis, mulher negra que através de sua profissão e sua escrita, retratou de uma forma singular personagens escravizados na sociedade maranhense do século XIX. Com forte teor antiescravista/abolicionista suas obras trazem representados homens e mulheres escravizados de forma humanizada, como sujeitos de suas próprias histórias, representando a si mesmos e referenciando dinâmicas sociais a que estavam expostos no contexto escravista maranhense. Diante desse contexto, o presente trabalho propõe discutir alguns aspectos sociais da escrita firminiana, analisando representações contidas nas obras Úrsula de 1859 e A Escrava de 1871.