EMPREGADAS DOMÉSTICAS E RACISMO: problematizações em um contexto de pandemia e necropolítica

Abstract

O objetivo geral deste estudo foi analisar episódios do racismo estrutural e da necropolítica na vida de mulheres negras que atuam profissionalmente como empregadas domésticas no contexto da pandemia de Covid-19 no Brasil. Além dos seguintes objetivos específicos: Contextualizar historicamente o racismo genderizado no trabalho doméstico na sociedade brasileira; Discutir os efeitos da necropolítica do estado brasileiro sobre a vida de mulheres negras que atuam profissionalmente como empregadas domésticas na pandemia do Covid-19; Cartografar episódios do racismo estrutural contextualizado pela pandemia do Covid-19 na relação entre patrões e mulheres negras que atuam como empregadas domésticas. Para tanto foi realizada uma pesquisa qualitativa de inspiração cartográfica. Os materiais que foram analisados neste estudo estão publicados na internet e foram coletados a partir de uma pesquisa realizada no mês de julho de 2021. Para o procedimento de coleta e análise de dados a pesquisa seguiu também o método da análise de episódios inspirado na metodologia utilizada por Grada Kilomba. A análise episódica foi utilizada buscando o levantamento dos episódios que representam o racismo vivenciado pelas empregadas domésticas no contexto pandêmico, publicizados através de reportagens, sites de jornais e revistas e redes sociais. Ademais, utilizamos ainda a análise de documentos de Peter Spink, um método que permite o acesso aos discursos de documentos, narrativas e textos em uma lógica de produção de sentidos. Foram incluídos nas análises dispositivos legais tais como leis, decretos estaduais e federais e notas técnicas decorrentes da pandemia, além de dados estatísticos produzidos por institutos de pesquisa que examinaram informações sobre as condições da população no contexto pandêmico, levando em consideração os marcadores de raça e gênero. Por fim, foram identificadas práticas sociais estruturantes associadas ao racismo genderizado que atravessam as existências das mulheres negras e das empregadas domésticas e que determinam as vidas desse grupo marcado pelo entrelaçamento de questões de raça, gênero e classe. Além da marginalização social e legal, consequência da negligência e omissão do Estado, que legitimou na pandemia as mais diversas violações a categoria das empregadas domésticas, como a privação de liberdade, desumanização, submissão e morte.