Lógica, regras e comportamento: o convencionalismo de Wittgenstein

Abstract

RESUMO: A tarefa principal do presente trabalho é caracterizar uma filosofia da lógica, seguindo o desenvolvimento teórico tardio de Ludwig Wittgenstein. É amplamente reconhecida a importância da lógica, assim como da matemática, para o pensamento de Wittgenstein. Sua trajetória filosófica começou com o fascínio promovido pelo paradoxo de Russell, uma contradição que ameaçou as bases logicistas e fregeanas que buscavam fundamentar a matemática no século XX. Apesar disso, durante muito tempo prevaleceu a ideia de que a principal contribuição do filósofo para a lógica se esgotou na publicação de seu Tractatus em 1922. No entanto, argumentamos que Wittgenstein nunca deixou de interessar-se pela lógica. De fato, alguns de seus comentários publicados postumamente são contribuições valiosas e inexploradas para a filosofia da lógica, merecendo uma análise mais aprofundada. Em especial, no que refere-se a um problema clássico de filosofia da lógica: Qual a natureza da lógica? E no que nos baseamos ao realizar nossas inferências? Como veremos, embora Wittgenstein de fato ofereça uma resposta convencionalista à questão da legitimidade da lógica e da matemática, o faz de um modo mais moderado do que o asserido por Dummett. Para Wittgenstein, a legitimidade dessas disciplinas deriva de convenções estabelecidas por seus praticantes, de sorte que uma investigação filosófica dessas disciplinas implica uma análise linguístico-comportamental do processo inferencial. Essa análise, sendo fiel à prática dos lógicos, explica o rigor e a necessidade da lógica em termos de prática, usabilidade (operatividade), formas de vida, acordo e seguimento de regras. Vale ressaltar que, sob essa perspectiva, as lógicas emergem como atividades, disciplinas e ferramentas eficazes para moldar nossas práticas linguísticas proposicionais.