De cortesãs à filósofas: a condição das mulheres hetairas da primeira geração do Jardim de Epicuro

Abstract

RESUMO: Esta pesquisa investiga a presença e o papel das mulheres referidas como hetairas (ἑταίρα) na primeira geração do Jardim de Epicuro. O foco principal está em compreender sua condição dentro da comunidade epicurista e sua interação com a filosofia epicurista. Essa escolha justifica-se porque a literatura acadêmica em língua portuguesa sobre o epicurismo primitivo frequentemente não aborda de forma crítica e exclusiva essa questão em comparação à ética, à epistemologia e à física epicurista, mas apenas reproduz de maneira sintética e clichê a ideia de que essas mulheres eram admitidas entre os grupos marginalizados da época. Assim, este estudo visa problematizar essa visão ao explorar quem eram especificamente as tais hetairas na primeira comunidade epicurista, qual era a condição que desfrutavam dentro e fora da escola, e se dedicavam de fato à produção filosófica ou se havia impedimentos na escola a essa prática.Para isso, a pesquisa adota uma abordagem historiográfica crítica de natureza teórico-bibliográfica qualitativa, analisando dialeticamente tanto as narrativas hostis, que reduzem essas mulheres a objetos de prazer e ao âmbito da maternidade na vida privada, quanto às favoráveis ao reconhecimento de seu protagonismo na comunidade, com base em estudos nacionais e internacionais sobre o tema. Ao focar nas supostas hetairas do Jardim de Epicuro, este estudo permite compreender por que muitas atribuições de maternidade, companheirismo estético-sexual, protagonismo ou até mesmo engajamento filosófico dessas mulheres são inconsistentes, apesar da relativa abertura do epicurismo ao público feminino.