Histórias de vida de gestantes em situação de rua: um lugar onde nem sempre a obstetrícia alcança

Abstract

Resumo Nas últimas décadas, o empobrecimento progressivo da população contribuiu para o aumento do número de pessoas que vivem em situação de miséria, e com os impactos da pandemia da COVID-19, isso só tem se agravado. Ser mulher nesse cenário evoca relações de poder inseridas no conceito de gênero, considerado enquanto construção social e calcado em relações patriarcais, como gestante, as coisas ficam ainda mais difíceis. A pesquisa tem por objetivo conhecer as histórias de vida de mulheres em situação de rua durante o período gestacional. Trata-se de uma pesquisa qualitativa, retrospectiva, de natureza descritiva exploratória, que seguiu as etapas sugeridas pelo checklist COREQ. Participaram 8 mulheres em situação de rua, com histórico de gestação no período de 2020 a 2022, que recebiam atendimento obstétrico e de saúde através das ações da Organização sem fins lucrativos, Médicos do Mundo. Os dados foram coletados através de entrevistas semiestruturadas gravadas. Resultados e discussão: Os resultados foram separados em três categorias. Entre as participantes, algumas faziam uso de drogas lícitas e ilícitas durante a gestação apesar de seus riscos eminentes. No que tange o acompanhamento pré-natal, nenhuma das participantes realizou o mínimo de consultas. As fragilidades do cuidado se mostram presentes na execução de políticas públicas voltadas para essa população e suas demandas. O cotidiano de uma gestante em situação de rua se pauta em medos e anseios, quanto à sobrevivência dela e do seu filho, muitas relatam medo de não conseguir manter o filho vivo antes ou depois de nascer. Com base nas histórias de vida dessas gestantes, é nesse sentido que se coloca em relevo a necessidade de que a rede de serviços públicos voltados à população em situação de rua.