A “VERDADE ROMANESCA” EM A MULHER SEM PECADO DE NELSON RODRIGUES: UMA ANÁLISE DO CIÚME À LUZ DA TEORIA MIMÉTICA DE RENÉ GIRARD

Abstract

Resumo: Na peça A mulher sem pecado, obra de estreia de Nelson Rodrigues (1912- 1980) no teatro, a personagem principal, Olegário, parece contrariar a lógica convencional do ciúme na medida em que, claramente, atua no sentido de proporcionar cortejos à sua amada, Lídia, e ela seja testada repetidamente, somente assim comprovando seu amor. Tal inversão, a despeito da aparente quebra da lógica romântica, parece aventar uma interpretação análoga à teoria do desejo triangular, ou desejo mimético, formulada pelo teórico francês René Girard (1923-2015), em especial em suas obras Mentira romântica e verdade romanesca (2009) e Coisas ocultas desde a fundação do mundo (2009), nas quais o autor afirma que o desejo humano atravessa necessariamente a mimese do desejo de outrem por um objeto. Nesse sentido, o presente artigo busca entender, através da análise da peça do escritor brasileiro à luz das ideias do teórico francês, como atua o ciúme no processo de desejo no qual as personagens estão submetidas, cuidando em desvelar as consequências inevitavelmente violentas acionadas na trama e a maneira como poderíamos caracterizar tais personagens, tendo como fio condutor as noções girardianas de desejo, masoquismo e sadismo. Por esse motivo, levantamos a hipótese da tipificação da peça de Rodrigues como uma obra “romanesca”.